The field of Popular Education was historically constituted as part of a Latin American network for generating theories, discussions, proposals and repertoires of critical and insurgent social action aimed at rethinking education in practice, linking it to projects of accumulation and articulation of power popular through knowledge (Brandão, 2017; Viezzer, 1989). We work from an emancipatory meaning of the term Popular Education related to a tradition rooted in Popular Culture movements that had substantive growth between the 1960s and mid-1980s, a period of deepening imperialism and the subservience of the vast majority of Latin American states to the metropolises of capital, especially with the implementation of dictatorships and violent cuts in the social fabric of many countries in the region. One of the authors who best expressed this cultural melting pot was Paulo Freire, especially in his book Pedagogy of the Oppressed. Although this work is recognized as a fundamental contribution by the educator, having contributed to his international notoriety, we identify a relative lack of knowledge or concealment of his central theses in contemporary readings. While in Education as a Practice of Freedom, the author makes reference to a true or authentic elite as opposed to the elite superimposed on the people (Freire, 1967), the educational subject is inverted in Pedagogy of the Oppressed. Going towards Marxism and the historical subject materialized in the struggles in which he himself was educated, the educational subject becomes the “oppressed” himself, a concept absent in his work prior to 1968. This is made explicit in what he calls being a “theory of revolutionary action” (Freire, 2018), in which the educator becomes the student in fact, a leader led by a “thinking collective”, a founding characteristic of Popular Education (Schlindwein and Catini, 2021). The interpretation of Pedagogy of the Oppressed, which is considered a historical document of the region's struggles (Vasconcelos, 2020), is confused with antagonistic conceptions in a way that justifies strategic changes in the field of Popular Education. This allows us to establish a parallel between the emergence of new meanings of the term Popular Education and the vulgarization of Paulo Freire's thought. Often, both at the discursive level and, especially, in practice, there was little concern about cooptation attacks originating from the state form or even from other forms of civil society organization (Lopes, 2013). Following the change in the political scenario, especially in the second half of the 1980s, many organizations and individuals who had been acting in opposition to the authoritarian State, often in a clandestine manner, distanced themselves from or even abandoned the struggles against hegemonic forces led by the popular sectors, in the general adapting to the new democratic order, acting within the official and hegemonic frameworks provided for by established law (Carrillo, 2011; Jara, 2012). We propose to think about this double manifestation of the transformations that deepened mainly through the processes of "democratic opening", the practices of Popular Education and its theoretical references.

O campo da Educação Popular se constituiu historicamente como parte de uma rede latino-americana de geração de teorias, discussões, propostas e repertórios de ação social críticos e insurgentes voltados a repensar na prática a educação, a vinculando a projetos de acumulação e articulação de poder popular através do conhecimento (Brandão, 2017; Viezzer, 1989). Trabalhamos a partir de um sentido emancipatório do termo Educação Popular relacionado a uma tradição enraizada nos movimentos de Cultura Popular que tiveram um crescimento substantivo entre a década de 1960 e meados da de 1980, um período de aprofundamento do imperialismo e da subserviência da grande maioria dos Estados latino-americanos às metrópoles do capital, especialmente com a implantação de ditaduras e de violentos cortes no tecido social de muitos países da região. Um dos autores que melhor expressou esse caldo de cultura foi Paulo Freire, especialmente em seu livro Pedagogia do Oprimido. Apesar desta obra ser reconhecida como uma contribuição fundamental do educador, tendo contribuído para a sua notoriedade internacional, identificamos um relativo desconhecimento ou ocultamento de suas teses centrais nas leituras contemporâneas. Enquanto em Educação como Prática da Liberdade, o autor faz referência a uma elite verdadeira ou autêntica em oposição à elite superposta ao povo (Freire, 1967), o sujeito educativo se inverte em Pedagogia do Oprimido. Indo ao encontro ao marxismo e ao sujeito histórico materializado nas lutas em que ele próprio foi educado, o sujeito educativo passa a ser o próprio “oprimido”, conceito ausente em sua obra anteriormente a 1968. Isso fica explícito no que chama ser uma “teoria da ação revolucionária” (Freire, 2018), em que o educador se torna educando de fato, um dirigente dirigido por uma “coletividade pensante”, característica fundante da Educação Popular (Schlindwein e Catini, 2021). A interpretação de Pedagogia do Oprimido, que é considerada um documento histórico das lutas da região (Vasconcelos, 2020), se confunde com as concepções antagônicas de modo que justificam as mudanças estratégicas no campo da Educação Popular. Isso permite estabelecer um paralelo entre a emergência de novos sentidos do termo Educação Popular e a vulgarização do pensamento de Paulo Freire. Frequentemente, tanto no plano discursivo quanto, especialmente, nas práticas,houve pouca preocupação com as investidas de cooptação oriundas da forma estatal ou mesmo de outros modos de organização da sociedade civil (Lopes, 2013). A partir da mudança de cenário político, principalmente com a segunda metade dos anos 80, muitas organizações e indivíduos que estiveram atuando em oposição ao Estado autoritário, comumente de forma clandestina, se distanciaram ou mesmo abandonaram as lutas contra hegemônicas protagonizadas pelos setores populares, no geral se adaptando a nova ordem democrática, atuando dentro dos marcos oficiais e hegemônicos previstos pelo direito estabelecido (Carrillo, 2011; Jara, 2012). Propomos pensar nessa dupla manifestação das transformações que se aprofundaram principalmente a partir dos processos de "abertura democrática", das práticas de Educação Popular e das suas referências teóricas.

COMPUTER SCIENCE HISTORY IN THE MUNICIPAL NETWORK OF CAXIAS DO SUL: TRAJECTORIES OF FEMALE TEACHERS IN THE NETWORK

Cultural History provides a multitude of perspectives on history in various ways, expanding the historian's outlook on sources. This conceptual stretching opens the door to diverse investigations. This study involves the examination of the processes of establishing technological education in the municipal network of Caxias do Sul during the 1990s. It was conducted through documentary research, content analysis, and oral history strategies. The combination of these methodological approaches, supported by other analysis tools such as interview data mining, enabled the construction of a narrative about the implementation of educational computing by women in the Municipal Education Network of Caxias do Sul (RMECX). Caxias do Sul is a municipality in the Serra region of Rio Grande do Sul, in the southern region of Brazil. This municipality was one of the first cities to implement educational computing in its educational network, reflecting a global technological expansion that occurred in the 1990s. In this context, ideas for the inclusion of educational computing in RMECX emerged through the initiative of teachers who, as enthusiasts, foresaw the importance of computers. This movement began as early as 1986 when Professor Naura Luciano initiated the first specialization in educational computing promoted by the Federal University of Rio Grande do Sul. The teacher, who worked in the State Education network, was the first trainer in the municipality and contributed to expanding the still limited knowledge on the subject. Guided by Seymour Papert's pedagogical thinking, this teacher was responsible for conducting the first teacher training for the use of Educational Computing in the region. The outcomes of this initial training movement led to various developments, all led by women who introduced educational computing into classrooms in the municipality in the early 1990s. In this context, it is worth highlighting the work of Professor Carla B. Valentini, a young teacher in the municipal network who worked in a school for the deaf. Her vision of the possibilities of computers brought, for the first time, the opportunity for written synchronous communication through a type of radio to the deaf community in the city of Caxias do Sul. In the field of social inclusion, other movements occurred between 1990 and 1994. The selection of schools in the Northern Zone of Caxias do Sul, an area with low approval rates at the time, to participate in an educational computing program in partnership with the University of Caxias do Sul and, later, the creation of the first computer lab in one of these schools. In this sense, the 1990s saw rich advances and inclusion processes in the RMECX context, driven by a group of teachers who, networked and supported by visionary thinking, broke social barriers and implemented educational computing in the municipality's schools.

Keywords: Women, Inclusion, Educational Computing, History of Education

A História Cultural possibilita uma infinidade de olhares para a História, de diferentes formas, ampliando as perspectivas do historiador em relação às fontes. Esse esgarçamento conceitual dá lugar às mais diversas investigações. Este estudo consiste na investigação dos processos de constituição da educação tecnológica na rede municipal de Caxias do Sul durante os anos 1990, e se deu por meio de estudo documental, análise de conteúdo e estratégias de história oral. A combinação dessas abordagens metodológicas, subsidiadas por outros recursos de análise, tais como mineração de dados de entrevistas, possibilitaram a construção de uma narrativa sobre a implantação da informática educativa, realizada por mulheres, na Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul (RMECX). A cidade de Caxias do Sul é um município da região da Serra do Rio Grande do Sul, na região Sul do Brasil. Este município foi uma das primeiras cidades a implantar a informática educativa em sua rede de ensino, reflexo de uma ampliação tecnológica mundial que ocorria nos anos 1990. Nesse contexto, emergiram ideias para a inclusão da informática educativa na RMECX, por meio da iniciativa de professoras que, como entusiastas, enxergaram à frente de seus tempos, percebendo a importância dos computadores. Esse movimento se inicia ainda em 1986, quando a professora Naura Luciano iniciou a primeira especialização em informática educativa promovida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A professora, que atuava na rede Estadual de Educação, foi a primeira formadora do município e contribuiu para a ampliação do conhecimento, ainda bastante restrito sobre o assunto. Guiada pelo pensamento pedagógico de Seymour Papert, esta professora foi responsável por realizar a primeira formação de professores para o uso da Informática Educativa na região. Os frutos desse primeiro movimento de formação acarretaram diversos desdobramentos, todos liderados por mulheres que levaram a informática educativa às salas de várias escolas no município, ainda nos primeiros anos da década de 1990. Nesse contexto, cabe destacar a atuação da professora Carla B. Valentini, jovem professora da rede municipal que atuava em uma escola para surdos. A sua visão sobre as possibilidades dos computadores trouxe para a comunidade surda na cidade de Caxias do Sul, pela primeira vez, a possibilidade de comunicação síncrona escrita por meio de um tipo de rádio. No campo da inclusão social, outros movimentos aconteceram entre 1990 e 1994. A escolha das escolas da Zona Norte de Caxias do Sul, área com baixos índices de aprovação à época, para a participação em um programa de informática educativa em parceria com a Universidade de Caxias do Sul e, mais tarde, a criação do primeiro laboratório de informática em uma dessas escolas. Nesse sentido, os anos 1990 foram de ricos avanços e de processos de inclusão no contexto RMECX, motivados por um grupo de professoras que, em rede, apoiadas por um pensamento visionário, romperam as barreiras sociais e implantaram a informática educativa nas escolas do município.

Palavras-Chave: Mulheres, Inclusão, Informática Educativa, História da Educação

In the final decades of the Brazilian Empire, we see the affirmation of the school as a necessary place to shape man, especially in the country's capital, where there was a push to create schools, increase enrollment and educational reforms aimed at accrediting the school as a place of (strategic) intervention in life and society. In addition to government actions, other sectors of society took up this type of discourse and promoted conditions for children to attend school. In this context, the Brotherhood of the Blessed Sacrament of Candelaria, representing the Catholic creed, promoted a place of learning for poor children. The religious brotherhood consolidated its project in the republican period and, with transformations, still maintains this educational institution in operation. Among the discussions in the field of education at the end of the 19th century, such as conceptions of learning, teacher training, knowledge and funding, a problem arises: What was the educational project of this religious entity aimed at poor children? How did it try to manage the lives of the children it served? The Brotherhood of Candelaria established its Asylo da Infância Desvalidada da Candelária in 1881. Among the negotiations and interventions during the Republican period, the educational institution was founded and inaugurated under the name of Asylo do Benfeitor Gonçalves de Araújo. The first students arrived in 1901 and, for the first 30 years, the institution was run by the former tutor of the imperial prince, Benjamim Franklin de Ramiz Galvão. After Ramiz Galvão's departure, the management of the institution was left to different congregations of nuns and religious for many years. However, the boarding school system remained in place until 2008 and the care and teaching of children in situations of social vulnerability continues to this day. In view of the above, this paper is an excerpt from the doctoral research investigations, the general aim of which is to problematize the educational proposal(s) of the Brotherhood of Candelaria through the creation of the educational institution, which makes it possible to understand its way of conducting/regulating poverty and the marks left by this process on the lives of the former pupils. In this study, we analyzed the first two regulations of the Candelária Asylo da Infância Desvalidada, dated 1885, and the subsequent Asylo do Benfeitor Gonçalves de Araújo, approved in 1900. The intention is to investigate in these specific sources the permanence and ruptures of the Brotherhood's educational proposal for childhood education in the capital of Brazil. With regard to theoretical and methodological contributions, we have drawn on the work of BOSCHI (1986), PINHEIRO (1930), GONDRA (2004 and 2018), SOUZA (2008), GRAMACHO (2008 and 2023), CAMARA (2010) and SANTOS (2020). Among the results, we see an educational project that had as its center the regeneration of poor children through training for work. However, the change from the imperial to the republican political system led to significant changes in the institution. In the same way, we observed changes in the criteria for selecting and admitting students.

Nas décadas finais do Império brasileiro, observamos a afirmação da escola como local necessário para modelar o homem, sobretudo, na capital do país, onde se nota um impulso para a criação de escolas, aumento das matrículas e reformas educacionais destinadas a credenciarem a escola como local de intervenção (estratégico) na vida e na sociedade. Além das ações governamentais, outros setores da sociedade assumiram esse tipo de discurso e promoveram condições para as crianças frequentarem as escolas. Neste contexto, a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária, representante do credo Católico, promoveu um local de aprendizagem destinado às crianças pobres. A irmandade religiosa consolidou seu projeto no período republicano e, com transformações, ainda mantém a referida instituição educacional em funcionamento. Dentre as discussões no campo educacional no final do século XIX, como concepções de aprendizagem, formação de professores, saberes e financiamento, uma problemática se apresenta: Qual era o projeto educacional desta entidade religiosa voltada para a infância pobre? Como procurou gerir a vida das crianças que atendia? A Irmandade da Candelária proveu o seu Asylo da Infância Desvalidada da Candelária no ano de 1881. Dentre as negociações e intervenções no período republicano, sob o nome de Asylo do Benfeitor Gonçalves de Araújo, a instituição educacional foi fundada e inaugurada. As primeiras alunas chegaram em 1901 e, nos primeiros 30 anos, a direção da instituição ficou sob a responsabilidade do ex-tutor do príncipe imperial, Benjamim Franklin de Ramiz Galvão. Após a saída de Ramiz Galvão a direção da instituição por muitos anos ficou a cargo de diferentes Congregações de freiras e religiosas. Entretanto, o regime de internato permaneceu até 2008 e a assistência e ensino das crianças em situação de vulnerabilidade social se mantêm até os dias atuais. Diante do exposto, o presente trabalho consiste em um recorte das investigações da pesquisa de doutoramento, cujo objetivo geral é problematizar a(s) proposta(s) educacional(is) da Irmandade da Candelária através da criação da instituição educativa, o que possibilita compreender a sua maneira de conduzir/regular a pobreza e as marcas deixadas por esse processo na vida dos/as ex-alunos/as. No presente trabalho, analisamos os dois primeiros regulamentos do Asylo da Infância Desvalidada da Candelária, datado de 1885, e o posterior Asylo do Benfeitor Gonçalves de Araújo, chancelado em 1900. A intenção é investigar nestas fontes específicas, as permanências e rupturas da proposta educacional da Irmandade para a educação da infância na capital do Brasil. No que se refere aos aportes teóricos e metodológicos, recorremos aos trabalhos de BOSCHI (1986), PINHEIRO (1930), GONDRA (2004 e 2018), SOUZA (2008), GRAMACHO (2008 e 2023),CAMARA (2010) e SANTOS (2020).Dentre os resultados, verificamos um projeto educacional que tinha como centro a regeneração da infância pobre por meio da formação do/para o trabalho. Todavia a alteração do sistema político imperial para o republicano acarretou mudanças significativas na instituição. Da mesma maneira observamos alterações quanto os critérios de seleção e admissão dos alunos.