Conference Agenda

The nineteenth century was the period of the construction of nation-states. Education played a pivotal role in this process. However, at mid-century, when nationalism had not yet begun to hate and the movements for peace and free trade were in full swing, activists proposed initiatives that transcended the nationalisation of societies. In particular, the France of the Second Empire, in coordination with the British, tried to place itself at the centre of European politics. While steamships and railways made travel easier then ever before, the 1860 Franco-British free trade treaty liberalised the economy. These developments also had an educational equivalent. A largely overlooked episode in the history of secondary education, this presentation elucidates the invention of international schooling in the mid-nineteenth century. French and British experts made plans to create an international stock company with branches in the major European countries. Paris, London, Rome/Florence and Munich/Bonn were initially figured out as locations. Students would circulate every year from one country to another, so as to learn the respective languages in a seemingly natural way. The world exhibition of 1862 saw the climax of debates on international schools when leading statesmen, intellectuals, entrepreneurs and educators from both sides of the Channel supported the project. In its aftermath, institutions that more or less corresponded to the initial plans were set up in the suburbs of Paris and London as well as in Bonn. When the geopolitical situation changed drastically around 1870, enthusiasm for international schooling declined. The institutions were closed and fell into oblivion. The presentation is based on contemporary primary sources, including monographs, brochures, articles in periodicals as well as selected documents from the French national archives. It investigates the expert networks, ideological underpinnings and political embeddedness of the international education projects on the backdrop of mid-nineteenth-century internationalism, foreign language pedagogies and reform debates on secondary education.

O século XIX foi o período da construção dos Estados-nação. A educação desempenhou um papel fundamental neste processo. Em meados do século, quando o nacionalismo ainda não tinha começado a odiar e os movimentos pela paz e pelo livre comércio estavam em pleno andamento, vimos em Europa iniciativas que transcendiam a nacionalização das sociedades. Em particular, a França de Napoleão III, em coordenação com a Grã-Bretanha, tentou colocar-se no centro da política europeia. O tratado de livre comércio franco-britânico de 1860 liberalizou a economia. Esses desenvolvimentos também tiveram um equivalente educacional. Um episódio esquecido na história do ensino secundário, esto trabalho aborda a invenção do ensino internacional em meados do século XIX. Educadores educativos franceses e britânicos planejaram criar uma sociedade anônima internacional que criasse escolas nos principais países europeus. Paris, Londres, Roma/Florença e Munique/Bona foram inicialmente pensadas como locações. Os alunos circulassem todos os anos de um país para outro, de modo a aprenderem as respetivas línguas de uma forma mutua e natural. A exposição universal de 1862 assistiu ao clímax dos debates sobre as escolas internacionais. Funcionários, intelectuais, empresários e educadores de ambos os lados do Canal da Mancha apoiaram o projeto. Depois desta exposição, foram criadas instituições que mais ou menos correspondiam aos planos iniciais nos subúrbios de Paris e Londres e perto de Bona. Quando a situação geopolítica mudou drasticamente por volta de 1870, o entusiasmo pelo ensino internacional diminuiu. As instituições foram fechadas e caíram no esquecimento. O trabalho baseia-se em fontes primárias contemporâneas, incluindo monografias, brochuras, artigos em periódicos, e uns documentos selecionados dos arquivos nacionais franceses. Investiga as redes de especialistas, os fundamentos ideológicos e a inserção política dos projetos de educação internacional no contexto do internacionalismo de meados do século XIX, das pedagogias das línguas estrangeiras e dos debates sobre a reforma do ensino secundário.

Portuguese secondary education was created by Passos Manuel in 1836, with the 22 planned lyceums becoming operational by 1853. Attendance at lyceums was predominantly male during its early decades of operation, although nothing in the legislation prohibited young women from attending as students. Only in the 1890s, primarily starting with the Jaime Moniz Reform, did a steady influx of female enrollments begin, leading, with various hesitations in percentage growth, to them becoming the majority in some of the mixed-gender lyceums by the mid-20th century. Drawing from deep research conducted in the enrollment books of the three Minho lyceums, whose series are presented practically without gaps, as well as in electoral registration notebooks and fiscal documents, in addition to using local informants, this work is grounded in long-term analysis - from 1895 to 1947. That is, between the Jaime Moniz Secondary Education Reform and that of Pires de Lima, spanning much of the last two decades of the Constitutional Monarchy, the entire First Republic, and the first phase of the Estado Novo. It was possible to ascertain the profession of just over 90% of the parents of the students attending the lyceums in question, who were natives and/or residents of the 23 municipalities that then composed Minho. This allows understanding the socioeconomic distribution of those who sought secondary education for their sons and daughters, as well as its evolution over the approximately 50 years under analysis. Regarding adult-aged female students, the percentage of profession identification was, for the entire period, around 60% out of a total universe of 1951, contrasting with approximately 80% for male students, but justified by their underrepresentation in electoral registers, an essential source for knowing their profession in adulthood. Throughout the presentation, it will be demonstrated that the majority of these students were daughters of individuals belonging to various strata of the Minho bourgeoisie, particularly those linked to commercial or industrial property, work in the Civil Service, with particular emphasis on teachers, or in the service sectors, as well as in the Armed Forces or Security, predominantly born in cities and towns. Their background was more elitist than that of their male counterparts, and unlike them, rural areas were underrepresented among them. Their professional profile, after completing their studies and reaching adulthood, evolved over the period in question, initially emphasizing domestic workers and later teachers and public servants. This professional range was quite different from that assumed by their male peers, as could only be expected in a country where socioeconomic elites predominantly shifted from conservatism to adherence to fascist ideology, and where women were relegated, under the guise of the importance of motherhood and returning to the home, to a place of eternal minority.

O Ensino Liceal português foi criado por Passos Manuel em 1836, tendo os 22 liceus previstos entrado em funcionamento até 1853. A frequência dos liceus foi, durante as suas primeiras décadas de funcionamento, praticamente só masculina, embora nada na legislação proibísse que as jovens franqueassem, enquanto alunas, as suas portas. Apenas na década de 1890, essencialmente a partir da Reforma Jaime Moniz, se iniciou um fluxo constante de matrículas de jovens do sexo feminino que, com várias hesitações no crescimento percentual, conduziu a que, em meados do século XX, elas se tornassem maioritárias em alguns dos então liceus mistos. Partindo de uma profunda pesquisa realizada nos livros de matrícula dos três liceus do Minho, cujas séries se apresentam praticamente sem lacunas, bem como nos cadernos de recenseamento eleitoral e em documentos fiscais, para além do recurso a informantes locais, apresenta-se aqui um trabalho que se firma na longa duração - de 1895 a 1947. Ou seja, entre a Reforma do Ensino Liceal de Jaime Moniz e a de Pires de Lima e compreendendo boa parte das duas últimas décadas da Monarquia Constitucional, toda a Primeira República, e a a primeira fase do Estado Novo. Foi possível apurar a profissão de um pouco mais de 90% dos pais das alunas e dos alunos dos liceus em causa, naturais e/ou residentes nos 23 concelhos que, então, compunham o Minho. Tal possibilita conhecer a distribuição socioeconómica daqueles que procuraram o Ensino Liceal para os seus filhos e filhas, bem como a sua evolução ao longo dos cerca de 50 anos em análise. Quanto às alunas na idade adulta, a percentagem de identificação da profissão foi, para a totalidade do período, de cerca de 60% num universo total de 1951, o que contrasta com os aproximadamente 80% relativamente aos alunos, mas justificado pela sua subrepresentação nos cadernos eleitorais, fonte essencial para se saber a sua profissão na idade adulta. Ao longo da comunicação será demonstrado que a generalidade destas estudantes era composta por filhas de indivíduos pertencentes aos vários estratos da burguesia minhota, muito particularmente a ligada à propriedade comercial ou industrial, ao trabalho na Função Pública, com particular destaque para os professores, ou nos setores de serviços, bem como nas Forças Armadas, ou de Segurança, tendo elas nascido dominantemente nas cidades e vilas. A sua proveniência era mais elitista que a dos seus colegas e, ao contrário destes, entre elas o mundo rural estava subrepresentado. O seu perfil profissional, terminados os estudos e chegadas à idade adulta, foi evoluíndo ao longo do período em equação, salientando-se primeiro as domésticas e, depois, as professoras e as funcionárias públicas. Este leque profissional foi bem diferente do assumido pelos seus colegas de liceu, não podendo ter sido de outra forma num País onde as elites socioeconómicas passaram dominantemente do conservadorismo à adesão à ideologia fascista e em que para a mulher estava reservado, sob a capa da relevância da maternidade e do regresso ao lar, um lugar de eterna menoridade.

School education in the 21st century has been directly influenced by the debates promoted by the application of the PISA large-scale assessment under the organization of the OECD, impacting educational reforms in several countries. There is a broad political mobilization for curricular reforms, going beyond national borders, with the aim of controlling and/or producing concepts for the selection of what and how to teach in educational systems. This international dynamic has not gone unnoticed by researchers in the History of Education. Contemporaneously, such glocal dynamics open research fronts, which has been called transnational research in the History of Education (NÓVOA, 2001; VERA & FUCHS, 2021; FERRAZ-LORENZO & MACHADO-TRUJILLO, 2020), a perspective that this proposal establishes points of connection. Dialoguing with the research themes problematized by these reflections, our objective with this communication is to present results of research developed together with the Interdisciplinary Postgraduate Program in Human Sciences of the Federal University of Fronteira Sul and the Postgraduate Program in Education from the State University of Campinas, in which they highlighted the reverberations of transnational debates in educational reforms and the education system in Brazil after the Second World War, with special attention to the definition of concepts and methodological strategies for teaching History and Geography. From a theoretical and methodological point of view, we consider the contributions of Goodson (2013) and Popkewitz (1997) important for thinking about curricular and educational reforms, and the reflections of Pesavento (2004) on the concept of sensibilities. In the Brazilian education system, the impact of the actions and debates promoted by UNESCO is noticeable, with a view to building a culture of peace. Therefore, the selection of objects of knowledge that would enable the study of others was considered important as a teaching strategy. , listing school content related to the local, regional, national, global. And, finally, the valorization of active methodologies, so that the student acquires intellectual autonomy to position themselves in the world and its problems, valuing life and cooperation between nations.

A educação escolar no século XXI tem recebido influência direta dos debates promovidos pela aplicação da avaliação em laga escala PISA sob a organização da OCDE, impactando em reformas educacionais em vários países. Há uma ampla mobilização política para reformas curriculares, ultrapassando as fronteiras nacionais, tendo como objetivo controlar e/ou produzir conceitos para a seleção do que e como ensinar nos sistemas educativos. Essa dinâmica internacional não tem passado despercebido pelos pesquisadores da História da Educação. Contemporaneamente, tal dinâmica glocal aberto frentes de pesquisa, ao que tem sido denominado pesquisa transnacional da História da Educação (NÓVOA, 2001; VERA & FUCHS, 2021; FERRAZ-LORENZO & MACHADO-TRUJILLO, 2020), perspectiva que a presente proposta estabelece pontos de conexão. Dialogando com as temáticas de pesquisa problematizadas por essas reflexões, temos como objetivo com a presente comunicação, apresentar resultados de pesquisas desenvolvidas junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal da Fronteira Sul e ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas, em que colocaram na mirada dos pesquisadores as reverberações dos debates transnacionais em reformas educacionais e no sistema de ensino no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, com especial atenção para a definição de conceitos e estratégias metodológicas para o ensino da História e da Geografia. Do ponto de vista teórico e metodológico, consideramos importante as contribuições de Goodson (2013) e Popkewitz (1997) para pensarmos as reformas curriculares e educacionais, e as reflexões de Pesavento (2004) sobre o conceito de sensibilidades. No sistema de ensino brasileiro, é perceptível o impacto das ações e debates promovidos pela UNESCO, na perspectiva de construção de uma cultura de paz, para tanto foi considerado importante como estratégia de ensino a seleção de objetos de conhecimento em que possibilitasse o estudo do outro, elencando conteúdos escolares relativos ao local, regional, nacional, global. E, por fim, a valorização das metodologias ativas, a fim de que o estudante adquirisse autonomia intelectual para se posicionar diante do mundo e de seus problemas, valorizando a vida e a cooperação entre as nações.