In the research, we studied how female teachers are portrayed in the literary To Love, Intransitive Verb and “Behind Ruão’s Cathedral” written by Mário de Andrade. In it, we seek to understand how these representations bring us closer to the imaginary about women in São Paulo in the first decades of the 20th century. We used the method of critical analysis of traces of the past, based on a careful look at these sources as important evidence for understanding the past (Certeau, 2020). We realized that Mario de Andrade had a highly critical view of the economic elites of São Paulo who, according to his fictional construction, did not value education as something that could transform people. Instead, they preferred things that were useless, ornamental or related to certain professions. Women were portrayed only as common everyday objects, old age was seen as a sad time for women and laws were used to limit what they could do. On the other hand, we believe that education goes beyond school and also includes other means of educating men and women in the world. This is why literature is an important source for understanding how things were in the past. Our research focuses on understanding how female teachers are portrayed in Mário de Andrade's works and how this relates to the reality of the time. We discovered that there were foreign female teachers in Brazil between 1923 and 1944, especially teaching for wealthy families. The works we chose, “To Love” and “Ruão”, show elements related to education, with German and French teachers teaching Brazilian families. In this way, we understand that literature can tell us a lot about the past, as Burke (2008), Darnton (2010) and Pesavento (2014) have already pointed out. In conclusion, we discovered that preceptors were seen as agents of domestic education, but were limited by society, which considered them only as beings controlled by biological factors, in a kind of feminine essentialism. In the short story “Ruão”, the act of teaching a cultured woman is portrayed as something unimportant, marked by poverty and sexual repression.

Na pesquisa, estudamos como as professoras são retratadas nas obras literárias Amar, verbo intransitivo e “Atrás da Catedral de Ruão” escritas por Mário de Andrade. Nela buscamos entender como essas representações nos aproximam do imaginário acerca das mulheres em São Paulo nas primeiras décadas do século XX. Utilizamos o método de análise crítica de vestígios do passado, baseada no olhar para essas fontes como evidências importantes para entender os tempos idos (Certeau, 2020). Percebemos que Mario de Andrade possui uma visão altamente crítica em relação à parte das elites econômicas de São Paulo que, segundo sua construção ficcional, não valorizava a educação como algo que poderia transformar as pessoas. Em vez disso, segundo o autor, preferiam um estilo de vida aparentemente inútil, ornamental ou relacionado a determinadas profissões, como o Direito. As mulheres eram retratadas como adornos objetificados comuns do dia a dia, a velhice, vista como um tempo triste para o universo feminino e as leis eram usadas para limitar o que elas podiam fazer. Diversamente, dos personagens em tela, consideramos, assim como Mario, que a educação vai além da escola e inclui também outros meios de instruir homens e mulheres. É por isso que a literatura configura importante fonte para entender como as coisas eram imaginadas no passado. Nossa pesquisa se concentra em entender como as professoras são retratadas nas obras de Mário de Andrade; e como isso se relaciona – ou não - com a realidade da época. Descobrimos que havia professoras estrangeiras no Brasil entre 1923 e 1944, especialmente ensinando para famílias ricas. As obras que escolhemos, Amar e “Ruão”, mostram elementos relacionados à educação, com professoras alemãs e francesas ensinando famílias brasileiras. Desse modo, entendemos que a literatura pode nos contar sobre o passado, como já apontaram Burke (2008), Darnton (2010) e Pesavento (2014). Em conclusão, descobrimos que as preceptoras eram vistas como agentes da educação doméstica, mas eram limitadas pela sociedade, que as considerava apenas como seres controlados por fatores biológicos, numa espécie de essencialismo feminino. No conto “Ruão”, o ato de ensinar de uma mulher culta é retratado como algo sem importância, marcado pela pobreza e pela repressão sexual.

The historiography of Brazilian education has shown that the first decades of the 20th century correspond to the period in which the appreciation of formal education for citizens reached unprecedented levels. In fact, the educational issue prevalent at that time was expressed in the widespread rhetoric of overvaluing the schooling of the population. This rhetoric, shared by numerous social groups, aimed at the transformation, through education, of a slave and monarchic nation into a republican and democratic country, as per the consensus that spread in the public sphere, especially through various printed materials: books, newspapers, magazines, among others. The desired conversion of subjects into citizens, immigrants into Brazilians, and slaves into supposedly free workers would supposedly be achieved through the dissemination of schools throughout the country. The famous educational reforms of the 1920s, as well as the formation of the educational field as a space for specialists, are typical movements of that period (NAGLE, 1974; CARVALHO, 1989). Not by chance, Monarcha (2009) pointed out with precision that education was the "epiphany" of the period, treated at times with missionary and technical overtones, but primarily as redemptive and sweetened. Precisely for this reason, when the educational historian encounters printed traces produced in those times where representations of the school and its subjects stem from a clear satirical construction in relation to the subject, they wonder: to what extent are such traces subversive to the hegemonic representations of that time? How can we explain that amid the widespread belief in the unquestionable value of school education, we can discover images that ridicule and subvert the sacralized school universe? This is the question that this communication seeks to answer by analyzing excerpts from the famous illustrated children's magazine O Tico-Tico, launched in 1905 in Rio de Janeiro. We know that the publication was an undisputed editorial success and that the magazine strongly engaged in the construction of the Brazilian identity, the valorization of folklore and national heroes, the dissemination of ethical models with moralizing inclinations, the teaching of the Portuguese language, science, and national history (ROSA, 1991; VERGUEIRO, 2005; GONÇALVES, 2019). Due to these reasons, it was widely praised by the educational agents of the country. But O Tico-Tico also paradoxically allowed its readers to laugh at the school, the teachers, the educational materials, and themselves (that is, the students), in a clear process of satirical subversion to the status quo. Precisely for this reason, we will analyze these excerpts in light of Cultural History and the Philosophy of Language theorists, seeking to understand to what extent these fissures in the hegemonic representations of the school universe are emblematic of a profound and dense movement present in the national printed culture, related to the carnival traditions of Brazilian society. Funding: Fapemig

A historiografia da educação brasileira demonstrou que as primeiras décadas do século XX correspondem ao período em que a valorização da educação formal dos cidadãos atingiu níveis jamais observados. De fato, a questão educacional então em voga traduzia-se na retórica disseminada de supervalorização da escolarização da população. Tal retórica, partilhada por um sem-número de grupos sociais, visava a transformação, por intermédio da educação, de uma nação escravista e monárquica numa democracia republicana e democrática, conforme consenso que se disseminou na esfera pública, sobretudo por intermédio de impressos de gêneros variados: livros, jornais e revistas, dentre outros. Fato é que a desejada conversão dos súditos em cidadãos, dos imigrantes em brasileiros, e dos escravos em trabalhadores livres supostamente seria realizada via disseminação de escolas por todos os rincões do país. As famosas reformas de ensino dos anos de 1920, bem como a formação do próprio campo educacional enquanto um espaço de especialistas são movimentações típicas do período (NAGLE, 1974; CARVALHO, 1989|). Não por acaso, Monarcha (2009) assinalou em expressão precisa que a educação era a “epifania” do período, tratada ora com tintas missionárias, ora técnicas, mas, principalmente, redentoras e edulcoradas. Justamente por isso, quando o historiador da educação se depara com vestígios impressos produzidos naqueles tempos em que as representações da escola e dos seus sujeitos partem de uma clara construção satírica em relação ao assunto ele se pergunta: em que medida tais vestígios são subversivos às representações hegemônicas de então? Como explicar que em meio a crença disseminada no valor inconteste da educação escolar possamos descobrir imagens que ridicularizam e subvertem o tão sacralizado universo escolar? É esta a questão que esta comunicação procura responder, ao analisar excertos da famosa revista ilustrada infantil O Tico-Tico, lançada em 1905 no Rio de Janeiro. Sabemos que a publicação foi um sucesso editorial inconteste e que a revista se ocupou fortemente com a construção da identidade brasileira, com a valorização do folclore e dos heróis pátrios, com a divulgação de modelos éticos de inclinação moralizante, com o ensino da língua portuguesa, da ciência e da história nacional (ROSA, 1991; VERGUEIRO, 2005, GONÇALVES, 2019) e que, justamente por isso, foi amplamente incensada pelos próprios agentes educacionais do país. Mas O Tico-Tico também possibilitou, contraditoriamente, que seus leitores rissem da escola, dos professores, dos materiais pedagógicos e de si mesmos (ou seja, dos alunos), num claro processo de subversão satírica ao status quo. Justamente por isso, analisaremos tais excertos à luz dos teóricos da História Cultural e da Filosofia da Linguagem, procurando compreender em que medida tais fissuras às representações hegemônicas do universo escolar são emblemáticas de um movimento profundo e denso presente na cultura impressa nacional, relacionado às tradições carnavalescas da sociedade brasileira.

Launched in 1905, the emblematic and long-running children's magazine O Tico-tico consciously acted as a non-school educational device from its very first issue (ROSA, 2002; VERGUEIRO & SANTOS, 2005). Through its illustrated stories, tales, advice, graphic games and contests for readers, the magazine's editorial staff operated in confluence with the republican precepts in force in Brazil at the beginning of the 20th century. Literacy, science, art, work, morality, homeland, individual and collective conducts became civilizing ideals (ELIAS, 1994) that guided the social discourse and at the same time constituted the identity of the young democratic Brazil. It is possible to observe representations (CHARTIER, 1991; 2002) of the ideological body and the rhetorical functioning of these ideas in the first edition of this periodical. It is therefore a highly relevant source for writing the history of education in Brazil through non-pedagogical print culture. Given that the civilizing process deals with the formation of a certain modern subjectivity, printed matter is an indispensable source for understanding this process, especially a periodical aimed at children and young people. Considering the discursive richness of this magazine, this paper will focus specifically on the representations of male figures present in the ten comics or illustrated stories contained in magazine no. 01 of O Tico-Tico. Discursive semiotics was used to analyze these sources, taking into account the multisemiotic and intersemiotic approach characteristic of the printed pages of comic strips due to the concomitance and inseparation of written and visual texts. After analysis, the following indications were found: 1) a higher number of comics with male characters; 2) a higher number of male characters in each comic; 3) the narrative protagonism of male characters in comics; 4) greater exercise of power by male characters to the detriment of female characters in comics; and, 5) different masculinities, sometimes contradictory, played by these characters, leading them to social acceptance or punishment within the narrative. These indications point to a magazine intended to be for a youth gender neutral audience, but which in its first issue shows an asymmetry in the number and gender roles present in the first issue. In this way, male domination (BOURDIEU, 2020) runs through the processes of subjectivation and the construction of identities in a naturalized and therefore symbolically violent way. However, it is worth highlighting the importance of the first edition of O Tico-Tico , in its own way and time, proposing a publication that tried to include both boys and girls. In this way, it editorially contradicted one of its most important sources of inspiration, the French magazine La Semaine de Suzette, which was aimed exclusively at girls. Another point that draws attention is the fact that O Tico-Tico presents the male figure not only in roles of power, but also ridiculed in their own performances. Funding: Fapemig

Lançada em 1905, a emblemática e longeva revista infantojuvenil O Tico-tico, desde sua primeira edição, atuou conscientemente como um dispositivo educacional não escolar (ROSA, 2002; VERGUEIRO & SANTOS, 2005). Por meio de suas historietas ilustradas, contos, aconselhamentos, brincadeiras gráficas e concursos aos leitores, o corpo editorial da revista operou em confluência com preceitos republicanos vigentes no Brasil no início do século XX. O letramento, as ciências, as artes, o trabalho, a moral, a pátria, as condutas individuais e coletivas passaram a ser ideais civilizatórios (ELIAS, 1994) que balizaram o discurso social ao mesmo tempo que constituía a identidade do jovem Brasil democrático. É possível observar na primeira edição deste periódico representações (CHARTIER, 1991; 2002) do corpo ideológico e do funcionamento retórico dessas ideias. E, portanto, uma fonte de grande relevância para a escrita da história da educação do Brasil por meio da cultura impressa não pedagógica. Tendo em vista que o processo civilizador trata da formação de uma determinada subjetividade moderna, os impressos são fontes indispensáveis para o entendimento de tal processo, sobremaneira uma publicação periódica voltada para o público infantojuvenil. Dada a riqueza discursiva desta revista, esta comunicação vai se deter especificamente nas representações das figuras masculinas presentes nas dez histórias em quadrinhos (HQs) ou historietas ilustradas contidas na revista n. 01 d’O Tico-Tico. Para análise destas fontes foi utilizada a semiótica discursiva, levando em conta a abordagem multissemiótica e intersemiótica, característica das páginas impressas das histórias em quadrinhos em função da concomitância e indissociação dos textos escritos e visuais. Após a análise foram encontrados os seguintes indícios: 1) uma quantidade superior de HQs com figuras masculinas; 2) uma quantidade superior de figuras masculinas em cada HQ; 3) o protagonismo narrativo das figuras masculinas nas HQs; 4) maior exercício de poder das figuras masculinas em detrimentos das figuras femininas nas HQs; 5) e, diferentes masculinidades, por vezes contraditórias, protagonizadas por estes personagens, levando-os à aceitação ou punição social dentro da narrativa. Tais indícios apontam para uma revista destinada ao público infantojuvenil misto, mas que apresenta em seu primeiro número uma assimetria na quantidade e nos papéis de gênero presentes na edição n.1. Deste modo, a dominação masculina (BOURDIEU, 2020) atravessa de maneira naturalizada, por isso mesmo simbolicamente violenta, os processos de subjetivação da construção de identidades. Contudo, vale a pena sublinhar a importância da primeira edição d’O Tico-Tico propor, ao seu modo e ao seu tempo, uma publicação que tentasse contemplar meninos e meninas. Deste modo, contrariando editorialmente uma de suas mais importantes fontes de inspiração, a revista francesa La Semaine de Suzette, destinada exclusivamente ao público infantojuvenil feminino. Outro ponto que chama a atenção é o fato d’O Tico-Tico apresentar a figura masculina não só em papéis de poder, mas também ridicularizadas em suas próprias performances.

Through the analysis of the content and materiality of the Children's Supplement of the Rio de Janeiro newspaper Correio da Manhã (1901-1974); and considering the academic studies on the different representations of childhood and education that can be inferred from the reading of newspapers and magazines, we are willing to discuss the subject in the light of Cultural History (BURKE, 2008; DARNTON, 2010; CHARTIER, 2002) and the History of Education (CAMPOS, 2009; 2012; NEIVA, 2021). We intend to understand the moment of the creation of the aforementioned supplement (1937), discussing the relations between the emergence of this section in the newspaper and the importance acquired by the theme of childhood in the period. As we know, the first decades of the twentieth century in Brazil are characterized by the great importance that different social groups in society began to give to the children's universe. Professors, jurists, doctors, journalists and many other historical subjects turned this universe in full symbolic construction in the period (SCHWARTZMAN; BOMENY; COSTA, 2000). In this sense, it is noteworthy that the establishment of the time frame, between the years 1937 and 1938, is presented in such a way as to contribute to the debate on the education of children, especially in Rio de Janeiro, in the first half of the twentieth century, portraying how the desires for transformations in the period of the Estado Novo were created and recreated through the Supplement of the Correio, considering mainly moral, gender and customary issues. Thus, we seek to present what were the recurrent discourses presented in the pages of the Children's Supplement between the years 1937 and 1938, considering the function that newspapers played mainly during the period. We emphasize that the story told by the newspapers is presented by different spheres and perspectives, there is a very demarcated ideology, which privileges and excludes social groups. The newspaper is an important documentary source, however one should not disregard the particular values contained in its pages, the interests and ideologies of its founders and owners, the motivation and selection of articles that meet the expectations of its subscribers. In order to reflect on such issues, we seek to trace through these representations – based mainly on the ideals about childhood, in the pages of the Children's Supplement for other spheres, such as the school and the home (public and private), the model of society that is intended to be structured in this historical context. We highlight our transnational perspective of the analysis of the supplement, since O Correio is part of a sphere of international printed communication in full development, and that through the sociocultural transformations of the period, the debate on childhoods revealed the possibility of the construction of a national identity. Funding: Fapemig

Por meio da análise do conteúdo e da materialidade do Suplemento Infantil do jornal carioca Correio da Manhã (1901- 1974); e considerando os estudos acadêmicos sobre as diferentes representações de infância e educação depreensíveis da leitura de jornais e revistas, nos dispomos a discutir o assunto à luz da História Cultural (BURKE, 2008; DARNTON, 2010; CHARTIER, 2002) e da História da Educação (CAMPOS, 2009; 2012; NEIVA, 2021 ). Pretendemos compreender o momento de criação do referido suplemento (1937), discutindo as relações existentes entre a emergência desta seção no jornal e a importância adquirida pela temática da infância no período. Como sabemos, as primeiras décadas do século XX no Brasil são caracterizadas pela grande importância que diferentes grupos sociais passaram a dar ao universo infantil. Professores, juristas, médicos, jornalistas e tantos outros sujeitos históricos se voltaram este universo em plena construção simbólica no período (SCHWARTZMAN; BOMENY; COSTA, 2000). Neste sentido, destaca-se que o estabelecimento do recorte temporal, entre os anos de 1937 e 1938, se apresenta de modo a contribuir para o debate sobre a educação de crianças, especialmente no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, retratando como os anseios de transformações no período do Estado Novo eram criados e recriados por meio do Suplemento do Correio, considerando principalmente questões morais, de gênero e de costumes. Deste modo, buscamos apresentar quais eram os discursos recorrentes veiculados nas páginas do Suplemento Infantil entre os anos de 1937 a 1938, considerando a função que os jornais exerceram principalmente durante o período. Destacamos que a história contada pelos jornais se apresenta por diferentes âmbitos e olhares. Existe uma ideologia demarcada, que privilegia e exclui grupos sociais. O jornal é uma fonte documental importante, no entanto não se devem descartar os valores particulares contidos em suas páginas, os interesses econômicos de seus proprietários, a motivação e seleção de artigos que atendam às expectativas de seus anunciantes e assinantes. Destacamos nossa perspectiva transnacional de análise do suplemento, posto que O Correio faz parte de uma esfera de comunicação impressa internacional em pleno desenvolvimento. Por intermédio das transformações socioculturais do período, o debate impresso sobre as infâncias revelava tanto o diálogo com outras realidades reais e simbólicas quanto a possibilidade da construção de uma identidade nacional singular.