This communication is based on Michel de Certeau's methodological assumption about the practices of space (1998) and the perception that historians of education from the past and the present can be seen as walkers in a city which, taken as a metaphor for the field of the history of education, is endlessly constituted every time this walker dares to take a new route through it. And a new path doesn't necessarily mean walking a path that hasn't been trodden before, but could even mean stepping on the footprints of yesteryear, but always carrying new keys for reading events, sources and historical texts. Certeau invites us to come down from the top of the building and look at the ground, locating the people, the steps, the ground we walk on (1998, p. 169). Certeau is interested in the city woven from the paths of its inhabitants, the routes. And walking through the city is an act of discourse, it is an account (1998, p. 200). Still from this perspective, when reading texts that demarcate the space of knowledge of the History of Education in Brazil, questions pertinent to historiography emerge, thus problematizing the understandings given to the field itself and the history of its constitution. According to Vidal and Faria Filho (2003, p. 38), the theoretical, thematic and methodological renewal that took place in the 1990s in Brazil has three distinct orientations: problematizing the relationship between educational historiography and sources, the relationship between gender and education (Nunes; Carvalho, 1993), and, finally, the historicity of the place where historiographical practice is produced, highlighting the "need to historicize the language of sources and the conceptual tools of research in the History of Education" (Saviani, Carvalho, Vidal, Alves, Neto, 2011, p. 18). Also in this sense, the authors state that "the perspective of the subjects of the processes investigated becomes an object of interest, encouraging studies on the representations that specific agents make of themselves (2011, p. 18). In this context, the proposed communication deals with aural findings and auditory memories from past decades, which today are fragments that can be accessed at this time, with a certain spectrum of aspects and developments on the subject of education. On this listening plane, the researcher meets "Irene", now an elderly woman who has been a farmer all her life, since she was a child. Her father was a settler on some coffee plantations both in the interior of São Paulo and in the north of Paraná. Little is known about his ancestors; they never owned property. They had always worked on rented farms and the help of the whole family was essential. When the school arrived in the countryside, the girl stood out for her learning and I was able to "collect" memories from her of how much she helped, both as a girl and later as an adult, children and women who faced literacy challenge.

Esta comunicação visa o pressuposto metodológico de Michel de Certeau acerca das práticas de espaço (1998) e da percepção de que historiadores da educação do tempo passado e do tempo presente podem ser vistos como o andarilho de uma cidade que, tomada como metáfora do campo da história da educação, constitui-se infinitamente e toda vez que por ela este caminhante atreva-se a um novo trajeto. E novo trajeto não significa necessariamente percorrer um caminho ainda não trilhado, mas pode ser mesmo o pisar sobre as marcas das pegadas de outrora, mas sempre portando novas chaves de leitura dos acontecimentos, das fontes e dos textos históricos. Certeau convida para descer do alto do edifício e olhar ao rés do chão, localizando as pessoas, os passos, os degraus, o solo que pisamos (1998, p. 169). Interessa a Certeau a cidade tecida a partir dos caminhos dos seus habitantes, os percursos. E percorrer a cidade é ato de discurso, é relato (1998, p. 200). Ainda nesta perspectiva, na leitura de textos que são demarcadores do espaço de conhecimento da História da Educação no Brasil, emergem questões pertinentes à historiografia, problematizando assim as compreensões dadas ao próprio campo e à história de sua constituição. Segundo Vidal e Faria Filho (2003, p. 38), no conjunto de esforço da renovação teórica, temática e metodológica ocorrida nos anos de 1990 no país distinguem-se 3 orientações: problematizar a relação entre historiografia educacional e fontes, as relações entre gênero e educação (Nunes; Carvalho, 1993), e, por fim, a historicidade do lugar de produção da prática historiográfica, pondo em cena a “necessidade de historicizar a linguagem das fontes e das ferramentas conceituais da pesquisa em História da Educação” (Saviani, Carvalho, Vidal, Alves, Neto, 2011, p. 18). Ainda neste sentido, os autores afirmam que “a perspectiva dos sujeitos dos processos investigados passa a ser objeto de interesse, incentivando estudos sobre as representações que agentes determinados fazem de si mesmos (2011, p. 18). Neste escopo, a comunicação proposta trata de achados aurais e memórias auditivas de décadas passadas hoje se aportam aos fragmentos possíveis de serem neste tempo acessados, com certo espectro de vertentes e de desdobramentos no tema da educação. Neste plano de escuta, a pesquisadora encontra “Irene”, hoje uma anciã que foi agricultora por toda a vida, desde criança. Seu pai fora colono em algumas fazendas de café tanto no interior de São Paulo quanto no norte do Paraná. Pouco de sabe dos antepassados dele; propriedade, nunca tiveram. Sempre serviram em lavouras arrendadas e para isso a ajuda de toda a família era fundamental. Quando a escola chega no campo, a menina se destaca pelo aprendizando e dela pude “colher” recordações de quanto ela ajudou, tanto menina e depois já adulta, crianças e mulheres que enfrentaram desafios na alfabetização.

The objective of this text is to present aspects of the studies of the Argentinean Rodolfo Kusch (1922- 1979) and the Brazilian Paulo Freire (1921-1997) for investigations into diversity of gender in the history of Brazilian childhood schools. The elaboration of this theoretical framework based in Kusch (1999) and Freire (2004, 2014) for investigations into gender diversity in history of the Brazilian childhood school is justified considering the potential of aspects addressed by both theorists to provide visibility of the culture of Brazilian childhood school, considering social and educational political demands Latin American. Rodolfo Kusch developed a philosophy for recognizing oneself, the people of Latin America, based on their experiences and history of struggle. Kusch (1999) produced studies with indigenous people and excluded peoples who had their culture, of dealing with the social and with others, pruned by a culture coming from outside, from the axis European and American. These cultural and thought influences and impositions,
make it difficult for Latin Americans to experience and recognize themselves, which is why Kusch (1999) produced and thought of a philosophy for the Latin American people, valuing their experiences, experiences, cultures, beliefs and everything that may belong to the Latin- American. Freire denounced the reproductive school and capitalists centered on exploitation and in the oppression of the Brazilian people, “[...] fought for a liberating education for all subjects, so that teaching and school would not be an ideological apparatus of the State, that is, it would not reproduce and applied a capitalist work routine/control to children. (Serrano, 2023, p.53). Thus, the concerns of Kusch (1999) and Freire (2004; 2014) are similar with regard to fight for education, philosophy, psychology and other fields of humanities based on Latin American peoples, decentralized from foreign cultures and customs. Considering the specificities and experiences of childhood in Brazilian schools, it appears that the ideas of Kusch (1999) and Freire (2004, 2014), allows that, already in childhood, gender diversity observed are considered so that children have a genuine school life, experience their culture and their existence based on what the school can also produce, experience, reflect and propose alternatives to overcome situations of decriminalization, exclusionary and colonizing of differences. Furthermore, even though there are differences in addressing the theme, it is possible to think about and study gender issues in Brazilian childhood schools, with Latin American authors, corroborating the fight against an education that embodies the binarity and cisnormativity, as well as, corroborating with Latin-American narratives and theorists Americans for gender discussions. Therefore, the gender category contributed exponentially for the historiography of education, based on the struggle of women, social movements and even class struggles, as theorizations were under the control of men, above all, in France where historiography was in the employment of men, equally, disqualifying gender issues as a scientific topic (Pedro, 2011, p.270).

Freire denunciou a escola reprodutivista e capitalistas centralizados na exploração e na opressão do povo brasileiro, “[...] lutou por uma educação libertadora para todos os sujeitos, para que o ensino e a escola não fossem um aparelho ideológico do Estado, isso é, não reproduzisse e aplicasse uma rotina/controle de trabalho capitalista às crianças. (Serrano, 2023, p.53). Assim, as preocupações de Kusch (1999) e Freire (2004; 2014) são semelhantes no que diz respeito à luta por uma educação, filosofia, psicologia e demais campos das humanidades a partir dos povos latino-americanos, descentralizados de culturas e costumes estrangeiros. Considerando as especificidades e vivências da infância na escola brasileira, constata-se que as ideias de Kusch (1999) e Freire (2004, 2014), permite que, já na infância, a diversidade de gênero observadas sejam consideradas para que as crianças tenham uma vida escolar genuína, vivenciam a sua cultura e a sua existência a partir do que a escola também pode produzir, vivenciar, refletir e propor alternativas para superação de situações de descriminalização, excludente e colonizadora das diferenças. Ademais, ainda que haja divergências ao abordar a temática, é possível pensar e estudar as questões de gênero na escola da infância brasileira, com autores latino-americanos, corroborando a luta contra uma educação que encarna a binaridade e cisnormatividade, bem como, corroborando com as narrativas e teóricos latino- americanos para as discussões de gênero. Por conseguinte, a categoria gênero contribuiu exponencialmente para a historiografia da educação, a partir da luta das mulheres, dos movimentos sociais e até das lutas de classes, pois, as teorizações estavam sob controle dos homens, sobretudo, na França em que a historiografia estava no emprego dos homens, igualmente, desqualificando as questões de gênero como um tema científico (Pedro, 2011, p. 270).

Taking literary production as a source, this text proposes an exercise in historical-educational analysis, focusing on the educational reforms that occurred in São Paulo at the turn of the 19th to the 20th century. It is a book written by an elementary school teacher who worked in the first decades of the 20th century in the state of São Paulo, Brasil. Suggestively entitled "O calvário de uma professora" (The Calvary Of a Teacher) (Lice, 1928), the book was published by Estabelecimento Graphico Irmãos Ferraz in 1928. Considering the potential of literary texts for historical-educational analysis (Lopes, 2005), we read this book as a source to discuss on relations between gender and power in the context of the São Paulo educational reforms that occurred between 1890 and 1920. We argue that the power relations established by the reforms were, first, signified on the basis of gender (Scott, 1986). The unequal way in which power was hierarchically distributed was directly linked to the culturally perceived differences between the genders: men were given inspection and management positions; women, primary teaching. In other words, a hierarchy was established in which men exercised control and surveillance over women's work. "O Calvário de Uma Professora" can be understood as a thesis novel (Moraes, 1996, 2019). Thus, it is possible to read this book as a representation of the reforms (Chartier, 2002). For this reason, the methodology used bibliographical research to read this autobiographical text (Amparo et al., 2022). It should be made clear that it is not a question of taking the literary text as sufficient, but of comparing it with other types of sources and productions, with the aim of understanding the relations between gender and power in the context of changes in teaching. To do this, we turned to national and international literature on gender and power relations in the field of professional teaching (Apple, 1998; Dermartini and Antunes, 1993) as a way of nuancing the representations of female teaching in Dora Lice (1928).

Tomando a produção literária como documento, este texto propõe um exercício de análise histórico-educacional cujo foco recai sobre as reformas que marcaram o ensino paulista na virada do século XIX para o século XX. Trata-se de um livro escrito por uma professora primária, atuante nas primeiras décadas do século XX, no estado de São Paulo, Brasil. Sugestivamente intitulado O calvário de uma professora (Lice, 1928),o livro foi publicado pelo Estabelecimento Graphico Irmãos Ferraz em 1928. Considerando o potencial do texto literário para as análises histórico-educacionais (Lopes, 2005), lemos O Calvário de uma professora como documento a partir do qual discorrer sobre as relações entre gênero e poder no contexto das reformas paulistas do ensino ocorridas entre 1890 e 1920. Argumentamos que as relações de poder instituídas pelas reformas foram, antes de mais, significadas com base no gênero (Scott, 1986). A maneira desigual como o poder foi hierarquicamente distribuído articulou-se diretamente às diferenças percebidas culturalmente entre os sexos: aos homens, cargos de inspeção e direção, às mulheres, a docência primária. Em outros termos, constituiu-se uma hierarquia na qual os homens exerciam o controle e a vigilância sobre o trabalho das mulheres. O Calvário de Uma Professora pode ser entendido como um romance de tese (Moraes, 1996, 2019), na medida em que se insere nos discursos a respeito do ensino, daí a possibilidade de lê-lo como uma representação das reformas (Chartier, 2002). Por isso, a metodologia lançou mão da pesquisa bibliográfica na leitura deste texto autobiográfico (Amparo et al., 2022). Cabe esclarecer que não se trata de tomar como suficiente o relato literário, mas, de cotejá-lo com outros tipos de documentos, com o fito de compreender as relações entre gênero e poder no contexto das alterações do ensino. Para isso, recorremos à literatura nacional e internacional que versa a respeito das relações entre gênero e poder no campo da atuação profissional no ensino (Apple, 1998; Dermartini e Antunes, 1993) como forma de matizar as representações acerca do magistério feminino presentes em Dora Lice (1928).