This paper discusses the results of the research, which integrates a larger study: “Knowledge and practices in frontiers: toward a transnational History of Education (1810-...)” (FAPESP 2018/26699-4) and has sought to understand the historical processes of circulation of ideas and knowledge in a transnational perspective of the history of education. In this sense, the present research analyzed the representations, understood in the sense of Chartier (1991), about the emotions of primary teaching, found in the publications of the journal of the National Institute of Pedagogical Studies (INEP), the Brazilian Journal of Pedagogical Studies (RBEP). As a way of analyzing the representations produced by primary teachers, we also analyzed the Revista do Professor, a periodical of the Centro do Professorado Paulista, an association of primary school teachers in São Paulo. For analysis, we consider the contributions of recent studies on the histories of emotions in education (Escolano, 2021), in order to investigate the possible contradictions between the discourses of reform and progress in the educational field, and the manipulation of representations about emotions. The period defined for the study comprises a time when national education was undergoing international interventions and reform proposals, with the objective of developing public education and raising literacy rates. This process contributed to the configuration of the educational field gaining a character of scientificity, changing the representations about the work of primary teachers. The 1950s and 1960s also included a time of intense wage campaigns in São Paulo, promoted by the Centro do Professorado Paulista. Such mobilization has repercussions on the representations of emotions in the teaching work, as it was possible to observe in the articles of the Revista do Professor. On the other hand, the articles of the Brazilian Journal of Pedagogical Studies present the improvement of teaching as a major theme of discussion, and the emotions of the teaching work are represented as a necessary part for the improvement of aspects related to the subjectivity of the primary teacher, such as her personality and morals. Most of these articles emphasized the female teacher, as in the case of the analysis of the "emotionally maladjusted" teacher (Rosas, 1958). This indicates, therefore, a movement that also sought to control the subjectivities of the teaching profession, allowing the analysis of the movement of generation of emotional regimes, in view of the definition Willian Reddy (2001), as part of the process of rationalization of the teaching work.

Esta comunicação discute os resultados da pesquisa, a qual integra um estudo de maior escopo: “Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-...)” (FAPESP 2018/26699-4), o qual tem buscado compreender os processos históricos de circulação de ideias e saberes em uma perspectiva transnacional da história da educação. Nesse sentido, a presente investigação analisou as representações, entendidas na acepção de Chartier (1991), sobre as emoções do magistério primário, encontradas nas publicações do periódico do Instituto Nacional de estudos Pedagógicos (INEP), a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP). Como forma de analisar as representações produzidas pelo magistério primário, analisamos também a Revista do Professor, periódico do Centro do Professorado Paulista, associação de professores primários de São Paulo. Para análise, consideramos as contribuições dos estudos recentes sobre as histórias das emoções na educação (Escolano, 2021), de modo a investigar as possíveis contradições entre os discursos de reforma e progresso no campo educacional, e a manipulação das representações sobre as emoções. O período definido para o estudo compreende um momento em que a educação nacional passava por intervenções internacionais e propostas de reformas, com o objetivo de desenvolver a educação pública e elevar os índices de alfabetização. Tal processo contribuiu para que a configuração do campo educacional ganhasse um caráter de cientificidade, alterando as representações sobre o trabalho dos professores primários. As décadas de 1950 e 1960, também compreende um momento de intensas campanhas salariais em São Paulo, promovidas pelo Centro do Professorado Paulista. Tal mobilização, repercute nas representações sobre as emoções no trabalho docente, como foi possível observar nos artigos da Revista do Professor. Por outro lado, os artigos da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, apresentam o aperfeiçoamento do magistério como grande temática de discussão, sendo que as emoções do trabalho docente são representadas como parte necessária para o aperfeiçoamento de aspectos relacionados à subjetividade da professora primária, como a sua personalidade e moral. Sendo que a maioria destes artigos, enfatizavam a professora mulher, como no caso da análise da professora “emocionalmente desajustada” (Rosas, 1958). Isso indica, portanto, um movimento que buscava também o controle das subjetividades do magistério, permitindo a análise do movimento de geração de regimes emocionais, tendo em vista a definição Willian Reddy (2001), como parte do processo de racionalização do trabalho de ensino.

The present research offers an analysis of the approach taken by the anarchist press towards Comtian Positivism and its relation to the educational perspective. The investigation aimed to examine the connections between the positivist conception, developed by the French philosopher Auguste Comte (1798-1857), and the scientism of Modern Education, as manifested in the Brazilian anarchist press. For this study, we focused on the newspaper "A Lanterna: Folha Anticlerical de Combate," during the period from 1906-1916, which represents the second phase of the periodical launched in 1901 and circulated until 1935 in São Paulo. The newspaper served as a tool for Brazilian anarchism and gained renown for its activism against clericalism. Within its pages, there is also advocacy for the Modern School, which purportedly aimed to implement a scientific model capable of transforming the conservative relationships left by education based on ideals instilled by the Catholic Church and its clergy. From this perspective, we problematized the relationship between the scientistic perspective of Positivism and the educational model proposed by the periodical, given that positive philosophy was also grounded in scientistic ideals. The analysis was conducted through the methods of documentary and bibliographic research, characterizing the journalistic model of the editor of the periodical in question, the anarchist Edgard Leuenroth (1881-1968). In the pages of "A Lanterna," the writer acknowledged that Positivism had advanced as a conception with followers in various parts of the world, including Brazil. The scientistic movement propagated material progress through order in social relations. In these terms, the Modern School also favored progress resulting from scientific advancement. However, the issue proved contentious in the newspaper, as Positivism was at times criticized as an ideology seeking to become a new religion, even aiming to replace Catholicism. Thus, there was an alignment between what Auguste Comte, the creator of Positivism, advocated and the clergy leading clerical education. Consequently, the newspaper was critical of Positivism, demonstrating that it would not contribute to the development of Modern Education; instead, it would align with the prevailing conservative relationships.

A presente pesquisa apresenta uma análise sobre a abordagem dada pela imprensa anarquista ao Positivismo Comtiano e sua relação com a perspectiva educativa. O objetivo da investigação foi analisar as relações entre a concepção positivista, desenvolvida pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), e o cientificismo da Educação Moderna, que estavam presentes na imprensa anarquista brasileira. Para esta investigação, abordamos o Jornal A Lanterna: Folha Anticlerical de Combate, no período que compreende entre os anos 1906-1916, segunda fase do periódico que foi lançado em 1901 e circulou até 1935, na cidade de São Paulo. O jornal era um instrumento do anarquismo brasileiro e ficou conhecido por sua militância contrária ao clericalismo. Em suas páginas, também são encontradas a defesa da Escola Moderna, a qual seria responsável por implantar um modelo científico capaz de transformar as relações conservadoras deixadas pelo ensino pautado nos ideais inculcados pela Igreja Católica e seus padres. Nesta perspectiva, problematizamos a relação entre a perspectiva cientificista do Positivismo e do modelo educativo proposto pelo periódico, uma vez que a filosofia positiva também se pautava em ideais cientificistas. A análise se deu a partir do método da pesquisa documental e bibliográfica, caracterizando o modelo jornalístico do editor do periódico em questão, o anarquista Edgard Leuenroth (1881-1968). Nas páginas d'A Lanterna, o articulista reconhecia que o Positivismo havia avançado enquanto uma concepção que tinha seguidores em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. A corrente cientificista divulgava o progresso material mediante a ordem nas relações sociais. Em tais termos, a Escola Moderna também era favorável ao progresso resultante do avanço científico. Porém, a questão se mostrava conflituosa no periódico, haja vista que, por vezes, o Positivismo foi criticado como uma ideologia que visava se tornar uma nova religião, objetivando, até mesmo, tomar o lugar ocupado pelo catolicismo. Desta forma, havia uma aproximação entre aquilo que defendia Augusto Comte, criador do Positivismo, e os padres que estavam à frente do ensino clerical. Sendo assim, o jornal foi um crítico do Positivismo, demonstrando que o mesmo não faria a Educação Moderna se desenvolver, outrossim, seria consoante com as relações conservadoras que se encontravam vigentes.

As Farpas was a Portuguese monthly journal from the 19th century, originally run by Eça de Queirós and Ramalho Ortigão. They were created in the same year as the Casino Conferences - 1871. At first (1871 and 1872), this publication, aimed at a general criticism of the habits and customs of Portuguese society and of the former overseas colony - Brazil - was written by two writers: Eça and Ramalho. However, when Eça was invited to take over a consulate in Cuba, he left the project and Ramalho Ortigão began to coordinate and write As Farpas on his own, and remained so for another ten years - until 1882. Saraiva says that José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) was a contributor to the romantic school of the feuilleton. Older than Antero de Quental and his Generation contemporaries, Ramalho Ortigão, in the famous Questão Coimbrã, is said to have sided with Castilho, as he considered it cowardly to challenge an old, blind man to a polemic. Taking on As Farpas alone, after the departure of Eça, who was the one who brought him closer to his Generation, Ramalho Ortigão gave the publication an encyclopedic and eminently pedagogical character. Saraiva notes that "Ramalho multiplies the lessons on pedagogy, hygiene, and social conduct" (s/d, p.842). This paper aims to look at how the ideas of diversity, identity, and colonial domination appear in the writings of As Farpas. The pages of the periodical deal with issues of Portuguese emigration and colonial dynamics, offering elements that allow us to interpret some aspects of the metropolis-colony relationship, as well as elements that make it possible to criticize the Eurocentrism of the author's thinking, inscribed in a given evolutionist idea of civilization. From the point of view of the methodology of the work, we will try to compare the documentary sources of As Farpas, in the period when the publication was directed only by Ramalho Ortigão, with a whole body of literature on the subject. As a theoretical framework, we will try to mobilize the perspectives of Norbert Elias, Jack Goody and Anibal Quijano, on the civilizing and colonizing process, in an attempt to overcome the opposition between center and periphery and to braid the references a little, to verify the circularity of the levels of erudite and popular culture, as well as the transnational character of these discourses on peoples and civilization. In the end, like his fellow members of the 70s Generation, Ramalho Ortigão wanted to "refound Portugal". All his reflections were part of the already traditional concern about the causes of the country's backwardness and decadence in the light of a given sense of civilizational progress (Tavares, 2017, p.172). Thus, several images appear in the repertoire of As Farpas regarding migration (Feitosa, 2007, p.59) and also criticism of the ills of Brazilian society, especially slavery (Granjeia, 2018. p.40). Finally, we will try to ascertain the notions of the West and of progress that presided over the spirit of that time.

As Farpas foram um periódico mensal português do século XIX, originalmente dirigidas por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Foram criadas no mesmo ano em que decorriam as Conferências do Casino – 1871. A princípio (1871 e 1872), tal publicação, voltada para uma crítica geral dos usos e dos costumes da sociedade portuguesa e da antiga colônia ultramarina – o Brasil -, foi escrita pelos dois escritores: Eça e Ramalho. Porém, quando Eça foi convidado a assumir em Cuba um consulado, ele deixa o empreendimento; e Ramalho Ortigão passa a coordenar e a redigir sozinho As Farpas, assim permanecendo, por mais dez anos – até 1882. Diz Saraiva que José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) era tributário da escola romântica do folhetim. Mais velho do que Antero de Quental e seus contemporâneos de Geração, Ramalho Ortigão (que fora professor de Eça de Queirós no colégio), na célebre Questão Coimbrã, teria tomado partido de Castilho, por considerar covardia desafiar um senhor já de idade, velho e cego para a polêmica. Assumindo As Farpas sozinho, após a saída de Eça, que foi quem o reaproximou de sua Geração, Ramalho Ortigão confere à publicação um caráter enciclopédico e eminentemente pedagógico. Observa Saraiva que “Ramalho multiplica as lições de pedagogia, de higiene e de conduta social” (s/d, p.842). A presente comunicação tem por finalidade trabalhar a maneira pela qual aparecem nos escritos d’As Farpas as ideias de diversidade, de identidade e de dominação colonial. Nas páginas do periódico são estabelecidas temáticas que versam sobre questões de emigração portuguesa e sobre a dinâmica colonial, oferecendo elementos que nos permitem interpretar alguns aspectos da relação metrópole-colônia, bem como aferir representações que possibilitam a crítica ao eurocentrismo do pensamento do autor, inscrito em uma dada ideia evolucionista de civilização. Do ponto de vista da metodologia do trabalho, procurar-se-á confrontar as fontes documentais d’ As Farpas, no período em que a publicação foi dirigida apenas por Ramalho Ortigão, com toda uma literatura sobre a temática. Como referencial teórico, dever-se-á mobilizar as perspectivas de Norbert Elias, Anibal Quijano e Jack Goody, sobre os processos civilizador e colonizador, na tentativa de superar a oposição entre centro e periferia e de trançar um pouco as referências, de modo a que se possibilite verificar a circularidade dos níveis de cultura erudita e popular, bem como o caráter transnacional desses discursos sobre os povos e sobre a civilização. No limite, assim como seus companheiros de Geração de 70, Ramalho Ortigão pretendia “refundar Portugal”. Toda sua reflexão inscrevia-se na já tradicional inquietação acerca das causas do atraso e da decadência do país à luz de uma dada acepção de progresso civilizatório (Tavares, 2017, p.172). Sendo assim, são várias imagens que aparecem no repertório d’As Farpas relativamente à migração (Feitosa, 2007, p.59) e também às mazelas da sociedade brasileira, em especial, a escravidão (Granjeia, 2018. p.40). Por fim, buscar-se-á averiguar as noções de Ocidente e de progresso que presidem o espírito daquela época.